Thiago Moreno

A resistência criativa: a produção cultural no Brasil na atualidade

A resistência criativa: a produção cultural no Brasil na atualidade
Num país marcado por contrastes sociais, desigualdade histórica e instabilidades políticas recorrentes, a produção cultural brasileira segue sendo um dos pilares mais potentes de identidade, resistência e reinvenção. Mesmo diante de cortes em políticas públicas, censuras veladas e falta de incentivo estrutural, artistas, coletivos e produtores culturais têm reinventado suas formas de criação e sobrevivência ,reafirmando a cultura como força essencial de transformação social.
Desde o fim do Ministério da Cultura, em 2019, e a descontinuidade de diversos programas de fomento, o setor cultural sofreu golpes duros, que foram ainda mais agravados pela pandemia de Covid-19. A Lei Aldir Blanc e outras ações emergenciais ajudaram a mitigar a crise, mas escancararam a precarização do trabalho artístico e a ausência de uma política cultural robusta e contínua no país.
Apesar disso, é notável como a produção cultural segue pulsante. As periferias, os quilombos, as aldeias e os movimentos LGBTQIA+ têm protagonizado ações potentes, descentralizando a cultura dos grandes centros urbanos e rompendo com o modelo elitista tradicional. O funk, o rap, o teatro de rua, o cinema independente, a literatura periférica, o grafite e os coletivos de dança surgem não apenas como manifestações artísticas, mas como atos de afirmação política e identitária.
Além disso, a digitalização abriu caminhos antes inimagináveis. Plataformas de streaming, redes sociais e financiamentos coletivos permitiram que projetos culturais ganhassem visibilidade, apoio e viabilidade econômica fora dos circuitos tradicionais. A arte, agora, circula por novas redes e isso exige que o Estado também atualize seu entendimento e sua forma de apoio à cultura.
É urgente que se retome uma política cultural sólida, com investimento, descentralização e valorização de toda a diversidade brasileira. O Brasil precisa compreender que cultura não é luxo nem adereço: é direito, é memória, é futuro. E enquanto isso não acontece plenamente, os fazedores de cultura seguem criando. Criando contra o silêncio, contra a omissão, contra o apagamento. Criando porque resistir é também uma forma de existir.
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