Thiago Moreno

O Monopólio do Patrocínio Cultural: Quando a Diversidade Artística é Engolida pelo Mercado

O Monopólio do Patrocínio Cultural: Quando a Diversidade Artística é Engolida pelo Mercado
Por mais que se fale em pluralidade e liberdade de expressão, o cenário cultural brasileiro — e, em muitos aspectos, o mundial ainda vive sob o jugo do monopólio disfarçado do patrocínio. Embora as leis de incentivo, como a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual, tenham sido criadas para democratizar o acesso aos recursos, o que se vê na prática é a concentração de verbas nas mãos de grandes empresas e nas produções que oferecem maior visibilidade ou retorno de imagem para os patrocinadores.
A equação é simples e cruel: o que não gera lucro ou prestígio corporativo dificilmente recebe apoio. Assim, grupos independentes, artistas periféricos, produções experimentais e manifestações culturais não hegemônicas ficam à margem, disputando migalhas ou sobrevivendo à base de autossacrifício. A diversidade artística vira vitrine apenas quando serve à estratégia de marketing de grandes marcas.
Isso cria um ciclo vicioso. Com poucos recursos, as iniciativas alternativas não conseguem competir, ficam invisíveis, perdem público e, com o tempo, deixam de existir. O monopólio do patrocínio impõe, silenciosamente, um filtro estético, social e até ideológico. A cultura, que deveria ser espaço de multiplicidade e resistência, vai sendo moldada pelo gosto do capital — domesticada.
Mais grave ainda é o discurso da meritocracia artística que, sob a lógica empresarial, valoriza números de público, alcance digital, reconhecimento da crítica tradicional, ignorando contextos sociais, territoriais e históricos. Arte que não viraliza ou não lota teatro vira “fracasso”. Mas será mesmo que uma roda de jongo em uma comunidade quilombola é menos valiosa culturalmente do que uma superprodução em um teatro de elite?
É urgente repensar o modelo de financiamento cultural. O Estado precisa exercer seu papel de garantidor da diversidade e do acesso à cultura, sem se curvar às exigências do marketing privado. Do contrário, seguimos correndo o risco de que a arte que deveria nos libertar continue sendo moldada e vendida como produto, para agradar aos donos do dinheiro.
A cultura não pode ser apenas vitrine. Precisa ser espelho, janela e ponte. E isso só é possível quando todas as vozes têm, de fato, a chance de serem ouvidas.
por Thiago Moreno
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