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Pedra Bela,16/07/2025

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Maude Salazar

POLÍTICA E RELIGIÃO NÃO SE DISCUTE?


POLÍTICA E RELIGIÃO NÃO SE DISCUTE?

POLÍTICA E RELIGIÃO NÃO SE DISCUTE?

Crescemos ouvindo isso como se fosse um mandamento. Política e religião não se discutem. Dizem que é para evitar brigas, preservar amizades, não ofender as crenças alheias. Mas o que esse ditado esconde é o medo. Medo do conflito, sim, mas também medo da verdade.Medo de escutar o que não se quer ouvir. Medo de ser chamado a revero que sempre se repetiu sem pensar.

Política e religião são dois dos pilares que mais moldam a vida das pessoas. Juntas, decidem o que pode e o que não pode,quem vive e quem morre, quem fala e quem cala. Estão nas leis, nos púlpitos,nas sentenças, nas escolas, nas marchas e nos templos. Estão no corpo das mulheres, nos terreiros perseguidos, nos cultos que viraram empresas, nos crucifixos  pendurados nos tribunais, nos planos de governo disfarçados de fé.

Dizer que não se discute é um privilégio de quem pode se dar ao luxo de não pensar nisso. Para quem tem a vida regulada pordogmas, preconceitos ou exclusões, política e religião não são assuntos distantes. São sobrevivência. Quem é pobre, preto, LGBTQIA+, indígena,periférico, quem depende do SUS, do transporte público, da merenda escolar,quem reza num barracão ou é expulso de igrejas, quem apanha da polícia ou morre esperando justiça, essas pessoas sabem que política e religião não se separam.E que não discuti-las é entregar o próprio destino nas mãos de quem sempre teve poder demais e escuta de menos.

A frase “política e religião não se discutem”  serve mais para proteger estruturas do que para proteger pessoas.Porque discutir não é agredir. É pensar junto. É se colocar em relação. É examinar as bases que sustentam nosso mundo e perguntar: esse Deus que estão me oferecendo, ele liberta ou aprisiona?  Essa política que dizem ser de bem, ela defende quem,de fato?

É claro que existe um lugar sagrado para o silêncio da fé. Mas há um outro tipo de silêncio, o imposto. O que impede mulheres de assumirem seus corpos. O que exclui religiões de matriz africanados espaços públicos. O que finge que Estado é laico enquanto as leis são feitas em nome de um só Deus. O que transforma púlpito em palanque e oração em moeda.

Discutir política e religião é uma forma de não ser manipulado. É separar fé de fanatismo, caridade de populismo, moral de hopocrisia. É assumir a espiritualidade como uma força que emancipa, não que domestica. É compreender que Deus, seja qual for sua forma, não cabe num slogan nem num partido. E que justiça não se faz apenas com rezas, mas com atitudes.

Enquanto a gente evita o tema, alguém legisla por nós. Enquanto a gente silencia, outros falam em nosso nome e distorcem tudo. A fé sem consciência vira massa de manobra. A política sem crítica vira teatro para manipular os ingênuos.

Portanto, sim. Política e religião se discutem. Com firmeza e escuta. Com coragem e humildade. Com a alma aberta para mudar de ideia e o coração atento para não cair em ilusões.

Discutem-se para que ninguém use Deus como escudo para o ódio. Para que ninguém use o povo como desculpa para o lucro.Discutem-se para que a fé seja viva, e não uma arma. Para que a política seja justa, e não um teatro de interesses.

Porque onde há silêncio forçado, há injustiça.E onde há silêncio cúmplice, há mentira.



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