Seja bem-vindo
Pedra Bela,05/09/2025

  • A +
  • A -

Rubens Bernardo Tomas

No interior, resistência que transforma: a importância das ONGs LGBTQIA+

by Vitoria Santos
No interior, resistência que transforma: a importância das ONGs LGBTQIA+

Longe dos holofotes da capital, nos bairros afastados e cidades do interior paulista, pulsa uma rede silenciosa, mas poderosa, de resistência: são as ONGs LGBTQIA+ que atuam diariamente para garantir direitos, acolher vítimas de violência e fortalecer a autoestima e a cidadania de pessoas marginalizadas pela orientação sexual ou identidade de gênero.

No estado de São Paulo  o mais populoso do Brasil , as realidades do interior contrastam com a imagem cosmopolita da capital. Em muitas cidades pequenas, o preconceito ainda é enraizado, e a presença de políticas públicas para a população LGBTQIA+ é quase inexistente. É nesse cenário que surgem iniciativas fundamentais como o coletivo Somos Um Só, em Ribeirão Preto, a Casa Chama do Interior, em São Carlos, e o grupo Diversidade Jundiaí, que têm feito a diferença na vida de centenas de pessoas.

Ações que salvam vidas

As ONGs LGBTQIA+ no interior desempenham um papel múltiplo: oferecem apoio psicológico, assessoria jurídica, acolhimento para pessoas expulsas de casa, distribuição de alimentos e kits de higiene para a população trans em situação de vulnerabilidade, além de atuarem na formação de educadores, campanhas contra o bullying e eventos culturais que promovem a visibilidade e o orgulho.

De acordo com levantamento da Rede Brasileira de População e Desenvolvimento (REBRAPD), mais de 70% das denúncias de violência LGBTQIA+ no interior do estado não resultam em investigação formal, o que reforça a importância dessas organizações no apoio direto às vítimas. Em cidades como Sorocaba, Presidente Prudente e Bauru, essas ONGs funcionam muitas vezes como a única estrutura de apoio a jovens que sofrem violência doméstica ou discriminação nas escolas.

Cidadania e educação para além da sobrevivência

Além da assistência emergencial, muitas ONGs desenvolvem projetos educativos voltados para o empoderamento da juventude LGBTQIA+, especialmente em regiões onde o conservadorismo político e religioso é predominante. “Ser gay, lésbica ou trans em uma cidade pequena ainda é, muitas vezes, sinônimo de solidão e medo. Por isso, criamos espaços seguros onde essas pessoas possam existir e se desenvolver com dignidade”, afirma Juliana Reis, fundadora da ONG Pluralidade Viva, em Marília.

Esses espaços são também agentes de transformação social. Oficinas de teatro, rodas de conversa, saraus e cursos profissionalizantes são ferramentas utilizadas por essas organizações para promover o debate sobre diversidade e reduzir a evasão escolar e o desemprego entre pessoas LGBTQIA que, segundo o IBGE (2022), têm taxas até 70% maiores de informalidade e exclusão educacional do que a média nacional.

Desafios persistentes e apoio insuficiente

Apesar da importância, a maioria dessas ONGs enfrenta enormes dificuldades de financiamento. Com escasso apoio governamental e poucas doações privadas, muitas sobrevivem graças ao voluntariado. A ausência de editais públicos contínuos específicos para ações LGBTQIA+ no interior paulista é um entrave grave. Além disso, muitas dessas organizações ainda enfrentam ataques, ameaças e tentativas de deslegitimação.

“Falta política pública. O que temos são resistências locais que se estruturam apesar do Estado, não com ele. Precisamos que os municípios reconheçam essas iniciativas como políticas essenciais de promoção da igualdade”, afirma o ativista Matheus Andrade, do coletivo Arco-Íris Votuporanga.

Interior também é território de luta

Em tempos de crescimento de discursos de ódio e retrocessos nos direitos civis, as ONGs LGBTQIA+ do interior de São Paulo provam que é possível construir redes de cuidado, acolhimento e educação mesmo onde a intolerância tenta se enraizar.

Dar visibilidade a essas iniciativas e garantir recursos para sua continuidade não é apenas uma questão de justiça: é uma medida urgente de reparação histórica e de fortalecimento democrático. Porque a dignidade não pode ser privilégio de quem vive nos grandes centros  ela precisa chegar a todas as esquinas, inclusive nas praças silenciosas do interior.



COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.