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Pedra Bela,03/09/2025

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Thiago Moreno

Cultura à margem: a política de Tarcísio e o desmonte simbólico em São Paulo

Foto by Pedro de Dias
Cultura à margem: a política de Tarcísio e o desmonte simbólico em São Paulo

Na vitrine de concreto e capital chamada São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas conduz seu governo como um gestor de infraestrutura: estradas, trens, privatizações, números. Mas no meio desse discurso técnico, a cultura viva, contraditória, plural vai desaparecendo lentamente como se fosse ruído fora do plano de obras.

Ao contrário do que sugere sua origem fluminense e seu currículo técnico, o atual governador constrói em São Paulo um projeto ideológico profundo, que silencia a diversidade cultural em nome de uma suposta ordem econômica e moral. A cultura, sob Tarcísio, não é vista como direito, mas como distração subsidiada. Um gasto, não um investimento.

Basta olhar as ações concretas: cortes de verbas em editais, atrasos na liberação de recursos, esvaziamento de conselhos participativos, e uma clara desvalorização das expressões culturais periféricas, negras, LGBTQIA+ e indígenas. A arte que incomoda que critica, que educa, que transforma é sistematicamente ignorada ou asfixiada.

O caso do PROAC (Programa de Ação Cultural) é exemplar. Um dos principais instrumentos de fomento no estado, o programa sofreu com incertezas e morosidades administrativas desde o início do governo. Enquanto isso, discursos sobre “eficiência” e “meritocracia” escondem um retrocesso silencioso: a elitização dos acessos e a descontinuidade das políticas públicas que democratizavam a produção artística.

Pior: a cultura passou a ser tratada como campo de conflito ideológico. Projetos com temática de gênero, racial ou de direitos humanos enfrentam barreiras veladas. Teatros públicos têm menos espaço para obras provocativas. Museus vivem sob vigilância moral. A liberdade artística duramente conquistada  começa a ser vista com desconfiança pelo poder.

Tarcísio não está sozinho nesse projeto. Ele ecoa, ainda que de forma mais polida, a lógica bolsonarista que vê na cultura um inimigo político. A diferença é que, enquanto Bolsonaro atacava com arroubos, Tarcísio silencia com planilhas e discursos tecnocratas. Um apagamento sofisticado, mas não menos perigoso.

Enquanto isso, artistas independentes, produtores culturais e coletivos periféricos seguem resistindo com poucos recursos e muito cansaço. A cultura sobrevive nas margens, nas praças, nos becos, nos slams, nos saraus. Mas sem política pública, resistir vira sobrevivência  e não transformação.

É preciso perguntar: qual o futuro simbólico de um estado que desinveste na arte? Que valor pode ter o progresso sem imaginação, sem memória, sem identidade?

A São Paulo de Tarcísio pavimenta estradas, mas desmonta pontes com o povo. E uma sociedade sem cultura não avança apenas se repete.



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