Rubens Bernardo Tomas

Orgulho o ano inteiro: Atividades LGBTQIA+ vão além da Parada e resistem à lógica do marketing arco-íris

Por trás do mar de cores e da alegria contagiante da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo, há uma realidade que vai muito além de um único domingo festivo. A maior parada do mundo, com milhões nas ruas, é, sem dúvidas, um marco de visibilidade. Mas a pergunta que ecoa nos bastidores e nos movimentos de base é: e nos outros 364 dias do ano?
A comunidade LGBTQIA+ resiste diariamente em casas de acolhimento, saraus periféricos, coletivos de saúde, rodas de conversa, espaços artísticos e educativos, iniciativas culturais e projetos sociais que acontecem longe dos holofotes da Avenida Paulista. A verdadeira militância não termina com o encerramento da última apresentação da Parada ela começa muito antes e continua com ou sem likes.
Enquanto empresas desfilam com trios elétricos cheios de slogans coloridos e promessas de inclusão, muitas vezes suas políticas internas ainda carecem de representatividade real, contratação de pessoas LGBTQIA+, apoio a iniciativas concretas e combate à LGBTfobia estrutural. O chamado "pink money" ou seja, o dinheiro da comunidade LGBTQIA+ como alvo de consumo movimenta bilhões. Mas quantas dessas marcas continuam a dialogar com essa população no restante do ano?
Nos centros culturais das periferias, em bibliotecas públicas, coletivos de artistas trans e não bináries, ações de enfrentamento à violência e campanhas de empregabilidade, pulsa um ativismo silencioso, mas potente. São esses os espaços onde se constrói pertencimento e cidadania, onde se garante vida digna e oportunidades reais, longe do verniz corporativo.
A valorização da cultura LGBTQIA+ precisa de investimento contínuo. Precisamos de editais, leis de incentivo, políticas públicas específicas e permanentes. Precisamos de saúde integral com recorte de gênero e orientação sexual, educação que acolha as múltiplas existências, segurança pública que respeite identidades.
A Parada é importante, sim. Ela é ato político, celebração da vida, conquista de espaço. Mas ela não pode ser o único momento de visibilidade. O orgulho precisa ser cultivado todos os dias e isso se faz com ações concretas, não com campanhas de um dia só.
Empresas, governos e sociedade civil: o compromisso com os direitos LGBTQIA+ não pode ter data marcada no calendário. Ou é o ano inteiro, ou é oportunismo. O que no momento parece oportunismo.
Rubens Bernardo Tomas
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