Regina Papini Steiner

Alzheimer: a urgência de olhar para além da perda de memória

A Doença de Alzheimer, mais do que um transtorno neurológico progressivo, é um espelho do despreparo social diante do envelhecimento e da fragilidade humana. Com o aumento da longevidade, cresce também o número de diagnósticos: estima-se que mais de 1,7 milhão de brasileiros vivam com algum tipo de demência, sendo o Alzheimer o mais comum. E, ainda assim, pouco se discute sobre o impacto real da doença não apenas nos pacientes, mas também em seus familiares e cuidadores.
O Alzheimer não se limita à perda de memória. Ele corrói, silenciosamente, a identidade da pessoa, afetando suas emoções, sua linguagem, sua capacidade de se orientar no tempo e no espaço. Aos poucos, o indivíduo se desfaz diante dos olhos de quem o ama, em um processo lento e cruel de desaparição emocional.
A maior crueldade, no entanto, talvez esteja na negligência social. O Brasil ainda carece de políticas públicas estruturadas para diagnóstico precoce, acompanhamento psicológico e suporte contínuo para as famílias. O que se vê são cuidadores exaustos, profissionais despreparados e uma estrutura de saúde pública que mal dá conta de demandas básicas quanto mais de um cuidado contínuo e humanizado.
É urgente promover campanhas de conscientização que desmistifiquem a doença e estimulem a empatia. Mais que compaixão, precisamos de ação: investimentos em pesquisa, formação de profissionais especializados e criação de centros de referência em demências. O Alzheimer não é apenas um problema médico; é um desafio social, ético e político.
Ignorar essa realidade é contribuir para a invisibilidade de milhares de idosos e suas famílias. Enfrentar o Alzheimer exige, acima de tudo, lembrar que cuidar da memória do outro é preservar a nossa própria humanidade.
por Regina Papini Steiner
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