Festival de Inverno
Pedra Bela e o Festival de Inverno: quando a arte aquece o que o trabalho não alcança
A pacata cidade de Pedra Bela, no interior de São Paulo, é daquelas que parecem esquecidas pelo tempo e, sobretudo, pelo poder público. Com poucas oportunidades de emprego, juventude migrando para centros urbanos e um comércio que sobrevive com esforço diário, Pedra Bela parece respirar em compasso lento. Mas, ao chegar julho, algo muda.
O Festival de Inverno, promovido modestamente, sem alarde nem grandes patrocínios, transforma a cidade. A praça ganha música. Mas o mais importante: os pequenos comerciantes sentem algum alívio. Cafeterias, padarias, pousadas e feirinhas artesanais conseguem, nesse breve período, um fôlego financeiro que falta o ano inteiro.
A importância do Festival vai além da arte e da cultura: ele se torna um respiro econômico em meio à inércia estrutural. Para muitos moradores, não se trata de lazer, mas de sobrevivência. É quando se vendem os doces caseiros, o artesanato esquecido, o caldo na esquina, a pousada do parente.
Por isso, não é exagero dizer que o Festival de Inverno deveria ser valorizado como política pública de desenvolvimento local. A cultura aqui não é só entretenimento: é ferramenta de resistência e de geração de renda. E mostra que, mesmo onde o mercado não chega, a arte pode abrir caminhos ainda que pequenos para uma economia mais justa e humana.
Pedra Bela não precisa de milagres, mas de planejamento e vontade política. Se o Festival, com tão pouco, consegue, imagina o que seria possível com investimento sério, formação cultural contínua e valorização do que é feito por mãos locais.
Num país tão desigual, onde o interior frequentemente é deixado à margem, Pedra Bela ensina: cultura também é trabalho.
Sonia Mathias
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