Futebol: muito além do esporte, um pilar da cultura popular

Por muito tempo, o futebol foi analisado apenas sob a ótica do entretenimento ou da competição esportiva. No entanto, esse olhar reducionista ignora o seu real papel na sociedade: o de uma expressão cultural profunda, viva e poderosa. O futebol é um fenômeno social que atravessa fronteiras, idiomas e classes sociais, moldando identidades, narrativas e afetos coletivos.

No Brasil, é impossível dissociar o futebol da cultura nacional. Ele está presente nas ruas de terra das periferias, nos campos improvisados com chinelos como traves, nas escolas públicas, nas rodas de conversa, nas músicas e nas histórias de vida. É por meio dele que jovens sonham, comunidades se unem e o país encontra uma forma única de expressar alegria, resistência e pertencimento. Pelé, Garrincha, Marta, Didi e tantos outros nomes não são apenas atletas: são ícones culturais que ajudaram a escrever a memória afetiva de um povo.

Mais do que um jogo, o futebol é palco para disputas simbólicas. É onde se reivindicam direitos, onde se faz política, onde se luta contra o racismo, o machismo, a homofobia e outras formas de opressão. As torcidas organizadas, muitas vezes criminalizadas, também são espaços de mobilização social, onde se constrói identidade de classe, se exerce solidariedade e até se protesta contra injustiças sociais.

Contudo, a crescente mercantilização do futebol ameaça esse caráter cultural. A elitização dos estádios, os altos valores dos ingressos e a transformação do torcedor em mero consumidor afetam a vivência popular do esporte. É preciso resgatar o futebol como bem cultural coletivo, acessível e inclusivo, reconhecendo-o como ferramenta de transformação e expressão da diversidade brasileira.

O futebol é arte, política e alma. É a crônica viva das multidões. Reduzir sua importância à lógica do lucro e do espetáculo é negar ao povo um de seus mais legítimos patrimônios culturais.

Thiago Moreno