Marilu Gomes

Cabelo Afro-Brasileiro: Entre a Resistência e o Empoderamento

abelo Afro-Brasileiro: Entre a Resistência e o Empoderamento
Durante décadas, o cabelo afro foi tratado pela sociedade brasileira como algo que precisava ser domado, escondido ou alisado. Mas nas últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 2000, o discurso mudou. O que antes era símbolo de exclusão passou a ser uma potente ferramenta de empoderamento e identidade.
O cabelo afro-brasileiro carrega histórias de ancestralidade, resistência e orgulho. Ele é político. Ele fala sem dizer uma palavra e talvez por isso tenha sido historicamente tão atacado. Em um país onde o racismo estrutural ainda é tão presente, assumir os cachos, os crespos e os black powers é um ato de coragem, mas também de afirmação.
Filmes como “Medida Provisória” (2020), dirigido por Lázaro Ramos, nos ajudam a compreender esse movimento. A obra, que aborda um futuro distópico em que o governo brasileiro decide “devolver” os cidadãos negros para a África, é uma alegoria potente do apagamento histórico vivido por essa população. Em meio à narrativa, o cabelo natural aparece como símbolo de identidade, pertencimento e enfrentamento. Ele é parte da estética de resistência que os personagens constroem para não serem apagados e, mais do que isso, para dizer ao mundo: estamos aqui.
Cabelos afro não precisam ser "tolerados". Eles devem ser celebrados. Cada trança, cada torção, cada volumoso black é uma resposta a séculos de imposições eurocêntricas de beleza. E à medida que mais pessoas negras se enxergam na mídia, na publicidade, no cinema e na moda usando seus cabelos naturais com orgulho, novas gerações passam a crescer com a autoestima preservada e isso é transformador.
A aceitação do cabelo afro-brasileiro é, antes de tudo, uma luta por liberdade. Liberdade de ser, de existir, de não precisar se esconder para ser aceito. E esse é um debate que precisa continuar em pauta, em cada escola, empresa, tela de cinema e redação jornalística. Porque o cabelo também é cultura, é política, é história viva.
por Marilu Gomes
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