Marilu Gomes

Negro brasileiro e negro americano: histórias que convergem, lutas que divergem.

Negro brasileiro e negro americano:
histórias que convergem, lutas que divergem.
Falar sobre as diferenças entre o negro brasileiro e o negro americano é, acima de tudo, mergulhar nos traumas e consequências de dois processos históricos de colonização distintos mas igualmente marcados pela brutalidade da escravidão. Se a pergunta é se essa diferença tem a ver com a colonização, a resposta é um retumbante sim. Contudo, a análise vai além da história oficial: passa pela forma como cada sociedade lidou (ou não lidou) com o racismo após a abolição da escravidão.
Nos Estados Unidos, a segregação racial foi institucionalizada com leis como as Jim Crow Laws, que separavam brancos e negros em espaços públicos. Isso fez com que a população negra desenvolvesse uma identidade racial muito mais coesa e politicamente organizada. Martin Luther King, Malcolm X, Rosa Parks e o movimento Black Lives Matter não surgiram por acaso: são frutos de um povo que, mesmo massacrado, teve que se unir para sobreviver. Lá, a cor da pele nunca permitiu passar despercebido. O racismo é explícito e, por isso, enfrentado de forma direta.
Já no Brasil, o mito da democracia racial apagou o debate por décadas. A mistura de raças foi usada como propaganda de harmonia, mas na prática escondeu desigualdades profundas. Aqui, o racismo é mais disfarçado, mascarado por expressões como "não foi por mal" ou "somos todos iguais". Isso não significa que o negro brasileiro sofra menos significa que precisa, muitas vezes, provar que o racismo existe antes mesmo de combatê-lo.
Essas diferenças refletem diretamente nas conquistas sociais. Nos EUA, há mais representatividade negra no cinema, na política e no mundo empresarial. No Brasil, ainda engatinhamos nesse caminho. A ausência de políticas reparatórias efetivas e a resistência em reconhecer o racismo estrutural dificultam avanços.
Em resumo, a diferença entre o negro brasileiro e o americano não está apenas na história que herdaram, mas na forma como cada nação escolheu (ou se recusou) a lidar com o passado escravista. O resultado? Enquanto o negro americano luta em bloco, o negro brasileiro ainda precisa quebrar o espelho da falsa igualdade para, enfim, enxergar a sua própria potência coletiva.
Marilu Gomes
COMENTÁRIOS