Regina Papini Steiner

A responsabilidade de ser mãe e pai: quando o amor não precisa passar por filhos

A responsabilidade de ser mãe e pai: quando o amor não precisa passar por filhos
Vivemos em uma sociedade que, apesar de tantas transformações, ainda impõe ao casal a expectativa da parentalidade como destino natural. Quase como um roteiro social obrigatório: conhecer alguém, namorar, casar e ter filhos. Mas é preciso dizer com clareza e com urgência que ser pai ou mãe não é um passo inevitável, nem uma prova de amor. É uma escolha profunda, complexa, e que deve nascer do desejo real, não da pressão cultural.
A maternidade e a paternidade não são títulos simbólicos, são responsabilidades que transformam a vida de maneira definitiva. Um filho não é um projeto de reparação, nem uma extensão do amor conjugal. É um ser humano que exigirá presença, cuidado, escuta e, principalmente, maturidade emocional. Por isso, não existe egoísmo algum na decisão de não ter filhos. Egoísmo, talvez, seja tê-los sem preparo, por convenção ou medo de romper expectativas.
Muitos casais constroem vidas plenas e felizes sem filhos. Viajando, trabalhando juntos, se apoiando mutuamente, cultivando afetos e projetos que não envolvem a parentalidade. E essa também é uma forma legítima de amor. O que deveria ser valorizado não é o cumprimento de um modelo pré-estabelecido, mas a consciência da escolha ter ou não ter filhos deve ser uma decisão livre, refletida e honesta.
A romantização da maternidade e da paternidade ainda dificulta esse debate. Quem escolhe não seguir esse caminho é muitas vezes visto como incompleto, como se a realização pessoal estivesse necessariamente ligada ao exercício de criar alguém. Mas filhos não salvam relacionamentos, não preenchem vazios e não vêm ao mundo para dar sentido à vida de ninguém. Eles merecem chegar quando houver preparo, desejo e responsabilidade.
Repensar esses papéis é também repensar o que é o amor, o que é o cuidado e o que é a liberdade dentro de uma relação. Não há hierarquia entre os caminhos afetivos há apenas a necessidade de que sejam autênticos. Afinal, o mundo já tem pessoas demais criando filhos sozinhos, filhos não planejados ou filhos que não recebem o amor e o cuidado que merecem.
Ter filhos deve ser escolha, nunca obrigação.
por Regina Papini Steiner
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