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Pedra Bela,04/09/2025

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Maude Salazar

Repetição Não é Teimosia. É Pedido de Escuta.

Entre o trauma, o autismo, o TDAH e o silêncio imposto, a repetição pode ser um grito à espera de tradução.


Repetição Não é Teimosia. É Pedido de Escuta.

Repetição Não é Teimosia. É Pedido de Escuta.

Entre o trauma, o autismo, o TDAH e o silêncio imposto, a repetição pode ser um grito à espera de tradução.


Quando a fala não cessa, talvez a dor ainda esteja viva

Nem sempre a repetição vem de um trauma antigo.
Às vezes vem de algo que aconteceu ontem. Hoje. Há dez minutos.
E mesmo que a pessoa já tenha entendido racionalmente o que aconteceu, mesmo que diga “eu sei que não adianta mais falar disso”ela ainda fala.

Porque a dor não se resolve só com lógica.
Porque a escuta que recebeu não foi afetiva. Nem humana. Nem presente.

A pessoa fala de novo porque ninguém disse “eu te ouvi de verdade”.
Ninguém disse “você tem razão de sentir isso”.
Ou “isso importa”.
Ou, ao menos, “eu estou aqui com você, me conta de novo.”

E quando isso falta, a fala vira repetição.
A emoção, ainda viva, não encontra pouso.
Então se repete. Porque a dor que não foi reconhecida, insiste.


A repetição não é sempre sobre o passado.

É sobre o agora que ficou sem testemunha.

Às vezes, a pessoa já sabe o que precisa fazer.
Já encontrou a resposta prática.
Mas o corpo ainda está gritando.
O coração ainda está pulsando.
E a fala tenta compensar o que a escuta não acolheu.

É como se dissesse:
“Eu sei o que fazer, mas preciso que alguém me veja antes de eu seguir.”


Nem todo mundo escuta com o corpo inteiro

Às vezes, quem ouve acha que escutou.
Mas escutou com distração.
Escutou com pressa.
Escutou como quem “deixa falar”, mas sem presença.

Não olhou nos olhos.
Não validou.
Não reagiu.
Não disse nada.
Ou pior: disse “já entendi” com cara de quem quer encerrar.

E aí, a pessoa repete.

Não porque é chata.
Mas porque a conversa não teve fim.
Ela apenas foi interrompida.


A escuta que falta

Falta a escuta que diz:
— “Você não está exagerando.”
— “Eu vejo o quanto isso te impactou.”
— “Você tem todo o direito de estar sentindo isso.”

Falta a escuta que não tem medo de sentir junto.
Que não responde com pressa.
Que não diz “é só isso?” no final.

Falta a escuta que acolhe sem corrigir. Sem minimizar. Sem silenciar.

E quando essa escuta falta, o corpo continua tentando resolver pelo que tem:
a repetição.
O looping.
O desabafo constante.


Mas quem escuta também se cansa

Sim.
Quem escuta também tem limite.
Também se sente sobrecarregado.
Também pode ter feridas que são tocadas quando o outro fala demais.

E tudo bem reconhecer isso.

Mas existe uma diferença enorme entre admitir o próprio limite
colocar o peso do cansaço no outro.

Quem não consegue mais escutar, pode dizer com amor:
— “Eu te amo, mas agora estou sem espaço pra escutar tudo. Posso ficar com você em silêncio? Posso te ouvir com mais presença depois?”

Isso é diferente de dizer:
— “De novo esse assunto?”
— “Você fala disso o tempo todo.”
— “Você precisa parar de repetir.”

Porque dizer isso corta a escuta pela raiz.
Faz a pessoa sentir que seu sentimento é excesso.
Faz a dor virar incômodo.
E o que era um pedido de acolhimento vira um novo abandono.


A cura começa quando alguém escuta de verdade

Você quer saber como escutar alguém que repete?

Não tente apressar.
Não tente corrigir.
Não tente interpretar.

Pergunte com presença:

— “Você sente que eu te escutei mesmo?”
— “Tem algo que ficou faltando ser visto?”
— “Quer me contar de novo, com calma?”

E diga com o corpo:
— “Eu estou aqui. Você não está sozinha nisso.”

A escuta verdadeira não é técnica. É relação.
Não exige diploma.
Exige coragem.

Porque quando a escuta é inteira, a fala repousa.
E a alma… descansa.



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