Regina Papini Steiner

A força e a responsabilidade ética da televisão brasileira: o papel do jornalismo na formação da opinião pública

Por décadas, a televisão brasileira exerceu, e ainda exerce, um papel central na formação de opiniões, valores e comportamentos. Com o poder de alcançar milhões de lares diariamente, os programas televisivos, especialmente os jornalísticos, moldam não apenas a forma como o público entende os acontecimentos do mundo, mas também como interpreta a realidade. Diante desse imenso alcance, é impossível não apontar a força e a responsabilidade ética que essa mídia carrega.
Historicamente, os telejornais das principais emissoras do país ditaram os rumos do debate público. Basta lembrar o poder simbólico e real que o "Jornal Nacional" teve durante o período da ditadura militar, ou o papel desempenhado pela imprensa televisiva nas campanhas eleitorais desde a redemocratização. Hoje, mesmo com a ascensão das redes sociais e do jornalismo digital, a TV aberta ainda é a principal fonte de informação para uma grande parcela da população principalmente nas regiões mais periféricas e entre as camadas populares.
Por isso, a responsabilidade ética dos profissionais e diretores de conteúdo é imensa. Quando um programa escolhe dar mais tempo de tela para uma determinada pauta política, ou apresenta uma matéria com uma determinada linguagem, sensacionalista, alarmista ou parcial, ele não apenas informa, mas também orienta o olhar da sociedade. A forma como se noticiam a violência urbana, os movimentos sociais, a política ou as questões ambientais pode reforçar estereótipos, alimentar preconceitos ou promover consciência crítica.
No entanto, o que vemos muitas vezes é a busca por audiência se sobrepor à responsabilidade jornalística. Programas que exploram tragédias pessoais em nome da "emoção" ou que fazem uso de enquadramentos editoriais enviesados colocam em xeque a credibilidade do jornalismo televisivo e a confiança da população na mídia. A espetacularização da dor e do sofrimento, tão comum em noticiários policiais, não contribui para a construção de uma sociedade mais informada, mas sim para a sua desinformação e insensibilização.
Por outro lado, há iniciativas louváveis. Programas jornalísticos investigativos que trazem à tona denúncias de corrupção, descaso com o meio ambiente, violações de direitos humanos ou injustiças sociais mostram que a televisão ainda pode ser um instrumento de transformação e cidadania. Contudo, esses exemplos ainda são exceções em um universo cada vez mais tomado por interesses comerciais e políticos.
A ética na comunicação não é um luxo, é uma exigência democrática. A televisão brasileira, com sua força ainda incontestável, precisa se lembrar do compromisso público que deve manter. A credibilidade, a pluralidade de vozes, a checagem rigorosa dos fatos e o compromisso com a verdade não podem ser meras intenções, mas práticas constantes.
Num país como o Brasil, onde a desigualdade de acesso à informação de qualidade ainda é gritante, o jornalismo televisivo tem o dever de ser mais do que um produto: deve ser um serviço. Um serviço que respeita seu público, que estimula o pensamento crítico e que contribui para uma sociedade mais justa, consciente e plural. E essa missão, mais do que nunca, exige coragem ética.
por Regina Papini Steiner
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