Maude Salazar

A TRAVESSIA
Quando a alma está indo embora

A TRAVESSIA
Quando a alma está indo embora
Há um instante em que o corpo se cala e a alma se levanta.
O ar fica mais lento, o tempo se alonga.
Para quem fica, a cena é ausência.
Para quem parte, é abertura, um portal invisível que se abre em silêncio.
O olhar espiritualista nos ensina que a morte não é corte, mas passagem.
Não é apagar-se, mas acender-se em outra frequência.
O espírito que se desprende não caminha só:
há mãos invisíveis que o amparam, vozes antigas que o chamam,
ancestrais que se curvam para acolher.
O que para os olhos terrenos parece vazio,
para a alma que atravessa é encontro,
é canto que se abre em coro,
é retorno à fonte onde tudo começou.
E nós, que ficamos, temos um papel sagrado:
sustentar o espaço com amor.
Uma mão entrelaçada, um sopro de oração,
um silêncio tecido de ternura,
são gestos que aliviam a travessia,
como quem embala um viajante até a beira do rio.
O apego se solta, a dor encontra chão, e a alma ganha asas.
A travessia é rito: o corpo repousa,
mas o espírito reencontra sua origem.
Entre a lágrima e a esperança,
entre a saudade e a fé,
o amor permanece como ponte.
Ele não se rompe, apenas muda de lugar.
E assim seguimos, nós e eles,
unidos pelo fio invisível que nenhuma morte corta.
Prece para a Travessia
Vai em paz, alma querida
teu corpo já cumpriu sua lida.
Não há vazio, não há perda
há caminho que se abre, há luz que te cerca.
Que teus guias te recebam
que teus ancestrais te abracem
que a luz maior te envolva
e teu coração se aquiete em canto suave.
Aqui fica o amor,
lá adiante te espera o reencontro.
Entrega-te como rio que volta ao mar,
como chama que se funde ao sol.
Não tenhas medo.
A vida não termina, apenas muda de veste.
Vai em paz, alma querida,
vai no colo da eternidade.
COMENTÁRIOS